terça-feira, 16 de julho de 2013

Memórias em ruinas

 


Memória que jaz em ruínas - assim foi em dia de memórias recortadas que esvoaçaram no passado. Dias em que mergulhastes na profundidade dos pensamentos, ocultados na alma!

Percorrestes recantos trilhados na inocência vivida numa adolescência docemente perdida – ou talvez não, onde a dureza das vidas talhavam uma personalidade vincada em cada ser que labutava, suando o seu sustento.

As alegrias, os sorrisos os castigos imerecidos prontamente aplicados pela maldade humana daqueles que se julgam deuses das almas errantes!

Tudo isso abraçou as ruínas das vidas passadas, unidas agora em fragmentos que havíeis perdido num qualquer cofre guardado na mente.

Caminhos percorridos, impregnados de silvados obscuros, cujas sombras perseguem os corações ingénuos, puros e ávidos de amor, prontamente cortados pela mão da paixão, ainda que sejam caminhos abandonados e quiçá perdidos no rumo do destino.

Com o olhar sequioso, visionastes o quadro natural, com o qual vos presenteou Lupércio, deus dos bosques dos rebanhos e dos pastores, que conheceis da mitologia grega. Deus que caminha altivo pelas grutas, vagando por florestas, mirando o seu reino, ladeado de ninfas que o veneram.

Os cheiros brotados pela terra; as criaturas que dela se alimentam, tudo em si neste quadro desenhado pela natureza e que ousais agora recordar, são memórias melosamente doces; tocantes … inebriantes, são as vossas memórias de locais que outrora pisastes.

Nenhum bem material é tão rico em sensações; emoções … vida, como as recordações doces – ou não tanto assim, dum passado remoto ainda que recente. Nada comprará o que já vivestes, amealhado agora no cofre da tua mente, que por vezes abres com a chave da melancolia, procurando a resposta para a tua própria vida.

Amais a vossa terra; a vossa pátria a vossa nação, senti o seu cheiro a sangue jorrado por patriotas que sangraram pelas entranhas que largaram em seu nome, em nome de um país que agora os abandona ao esquecimento.

Foi em terras lusas que nascestes, nas montanhas que ficam para lá do Marão. Terra onde a dureza suada das existências conquistadas levou já muitas vidas, outrora que sorriam apesar das adversidades e que cantavam a pátria lusa … agora votada a um rumo de perdição, por filhos que caminham errantes para um abismo de ruína!

Pátria vives agora mutilada, agonizante e doente … que cura pode teu filho oferecer-te?



João Salvador – 10/07/2013