Memória que jaz em ruínas -
assim foi em dia de memórias recortadas que esvoaçaram no passado. Dias em que
mergulhastes na profundidade dos pensamentos, ocultados na alma!
Percorrestes recantos
trilhados na inocência vivida numa adolescência docemente perdida – ou talvez
não, onde a dureza das vidas talhavam uma personalidade vincada em cada ser que
labutava, suando o seu sustento.
As alegrias, os sorrisos os
castigos imerecidos prontamente aplicados pela maldade humana daqueles que se
julgam deuses das almas errantes!
Tudo isso abraçou as ruínas
das vidas passadas, unidas agora em fragmentos que havíeis perdido num qualquer
cofre guardado na mente.
Caminhos percorridos,
impregnados de silvados obscuros, cujas sombras perseguem os corações ingénuos,
puros e ávidos de amor, prontamente cortados pela mão da paixão, ainda que
sejam caminhos abandonados e quiçá perdidos no rumo do destino.
Com o olhar sequioso, visionastes
o quadro natural, com o qual vos presenteou Lupércio, deus dos bosques dos
rebanhos e dos pastores, que conheceis da mitologia grega. Deus que caminha
altivo pelas grutas, vagando por florestas, mirando o seu reino, ladeado de
ninfas que o veneram.
Os cheiros brotados pela
terra; as criaturas que dela se alimentam, tudo em si neste quadro desenhado
pela natureza e que ousais agora recordar, são memórias melosamente doces;
tocantes … inebriantes, são as vossas memórias de locais que outrora pisastes.
Nenhum bem material é tão
rico em sensações; emoções … vida, como as recordações doces – ou não tanto
assim, dum passado remoto ainda que recente. Nada comprará o que já vivestes,
amealhado agora no cofre da tua mente, que por vezes abres com a chave da
melancolia, procurando a resposta para a tua própria vida.
Amais a vossa terra; a vossa
pátria a vossa nação, senti o seu cheiro a sangue jorrado por patriotas que
sangraram pelas entranhas que largaram em seu nome, em nome de um país que
agora os abandona ao esquecimento.
Foi em terras lusas que
nascestes, nas montanhas que ficam para lá do Marão. Terra onde a dureza suada
das existências conquistadas levou já muitas vidas, outrora que sorriam apesar
das adversidades e que cantavam a pátria lusa … agora votada a um rumo de
perdição, por filhos que caminham errantes para um abismo de ruína!
Pátria vives agora mutilada,
agonizante e doente … que cura pode teu filho oferecer-te?
João Salvador – 10/07/2013