domingo, 1 de março de 2015

Dissertação sobre a amizade


Que palavras escrever, para expressar a amizade que atravessa o peito daquele amigo que ouve e censura, mesmo que as suas palavras firam a tua alma, como uma flecha fria que te trespassa?

Sabendo-o no fundo que tem razão, despreza-lo, abandona-lo. Tardiamente dás-te conta que foste injusto, intolerante, inflexível … talvez até manipulado por palavras doces de um diabo camuflado de anjo.

Não mais deixarás que uma amizade enraizada seja envenenada, secando as raízes daquele amor irmão, regado diariamente, pela cumplicidade e pelos sorrisos.

A pureza cristalina da amizade cabe num peito tolerante, onde mergulham várias amizades, cada uma com o seu lugar cativo, sem atropelos. Todas elas possuem as suas qualidades, e, o seu cantinho na partilha de sentimentos.

Deixa que chore, deixa que exteriorize, mas não deixes a amizade morrer!

Acolhe o amigo, ainda que te magoe, ainda que pronuncie uma palavra menos apropriada. Fê-lo num momento de impulsividade, de dor … dor essa que deves abraçar.

Abraça-o, principalmente na tristeza dos dias em que as nuvens cobrem o céu de trevas. Sê o seu raio de sol, que lhe banha a pele. Se a terra fértil, onde o seu sorriso floresce e se alimenta!

Busca o que de bom nasceu naquele sentimento que lhe brota do peito. Vive todos os seus momentos … escuta-o atentamente.

Perdoa-lhe os momentos em que é bajulado por aqueles que o procuram apenas em momentos de alegria e o abandonam em momentos de tristeza.

Esse parasitismo combate-o se tiveres forças para tal, bastando para isso seres tu próprio ainda que ele te abandone!

A amizade pura e verdadeira: não julga, para não ser julgada; não critica para não ser criticada; não bajula para não ser castrada; não exige; partilha a alegria … mas também a dor!

A amizade nada pede em troca … apenas sente, assim sentes tu, humano que chora e ri, que vê viver e morrer, sentimentos.

Oferece o templo do teu sorriso, principalmente naqueles dias tempestuosos em que te apetece gritar. Mas não o faças, o teu amigo precisa de sorrir.

Ainda que o nevoeiro te tolde a alma, ainda que chores lágrimas banhadas a sangue, força-te a abrir a boca, levantar os lábios e a mostrar um sorriso cristalino … faz isso e serás um verdadeiro amigo, pois sabes que mesmo sofrendo ele está a precisar de ti!


João Salvador – 01/03/2014