terça-feira, 22 de março de 2016

Olhares do destino (micro contos)


Como ele se sentia, assim te sentias tu. Por mais que olhasse o espelho, não se via a si própria, mas apenas a uma sombra do passado. 
Como desejava voltar a tê-lo nos seus braços. Ela sabia-o longe, mas ao mesmo tempo tão perto. Não precisava de procurar no baú das recordações, pois sabia-o logo ali. Tão à mão, tão seu! 
Sentia as suas tristezas, as suas derrotas. A vida do seu amor, decorria à distância do desejo. Bastava querer que logo o teria em si. Mas que temeria ela? Quais os seus medos? 
O passado seria para enterrar, ou para viver o que não viveu? Sabia-o pronto para amar, pois a vida pregou-lhes algumas partidas, a ambos e no entanto, miraculosamente, ou por intervenção do cúpido, continuavam apaixonados ... sem se tocarem!
Cruzavam-se com frequência em sonhos, falavam um com o outro, matavam os desejos, saciavam os seus corpos nus. Percorriam os mais misteriosos recantos de uma história de amor. 

Através desse fluxo de sentimentos, conseguiam que o sangue de ambos circulasse, mantendo o coração activo, quente, com vontade de enfrentar todos os obstáculos que se lhes deparavam.
Tudo isso ela sabia, como o sabia ele e no entanto ... que esperavam? 

Na verdade bastaria que ambos fizessem um esforço, sentando-se frente a frente e se olhassem. Tudo chegaria num turbilhão de sentimentos, uma explosão de vontades, que logo se revelaria, forte e intensamente. A lava dos seus corações preencheria os vazios que agora sentem! Tudo isso se apagaria, num amar místico e só deles. 
Que mais importa além das suas loucuras? Que mais importa além do amor puro e verdadeiro que os une. Medo de uma sociedade puritana, podre, hipócrita?
Nesse dia, quando se olhava ao espelho, tomou a decisão mais importante da sua vida. Era o agora ou nunca. Pegou numa mala, colocou o essencial para a viagem e partiu para a terra dos sonhos, com sofreguidão ...
Iria vê-lo, agora, não esperaria que o destino nunca chegasse. O destino seria de ambos. O resto era o resto ...


João Salvador - 22/03/2016