domingo, 9 de novembro de 2014

Subjugado ao doce destino



Procurou fugir das recordações que o assolavam em todos os dias da sua vida, perseguindo-o através das névoas do tempo que se enraizaram na pele. 

Mas as memórias eram tão doces, viciantes que o condicionaram num acordo tácito, por seu próprio desejo, para a vida ... até nas suas escolhas.


Não conseguiu arrancar do seu coração o amor que se agarrava aguerridamente à sua alma, possuindo-a!

Toda a sua vida o perseguiu a vontade frenética de abandonar tudo e amá-la, viver com ela. Mas a dúvida, os medos coibiram-no, castraram-no.

Subjugou-se ao meloso destino que ele próprio traçou. 

Inconscientemente, a sua presença era sentida e através dela delineava as suas escolhas, olhando outras mulheres, vendo-a personificadas na sua amada. 

Os feitios, a personalidade as características físicas – aqueles cabelos longos, ondulados, pretos, o olhar intenso, penetrante hipnotizador, quente, dolorosamente cativante. 

Como uma lapa as recordações viviam nele e em tudo aquilo que o rodeava …

No seu íntimo queria abandonar o comodismo, seguir sem rumo, livre, apenas com o pensamento em reconquistar o amor perdido, reviver o sonho, outrora abandonado. 

Não se sentia verdadeiramente feliz, nunca o foi, sempre lhe faltou algo, o desespero abeirou-se dele, lançando-o no precipício … esvaziando-o, levando-o ao suicídio das suas vontades ... 

Podia ter alcançado o amor puro, o sentimento, mas deixou-o esmorecer, acobardou-se, deixou-se vencer pela sua mente doente. 

A tristeza visceral atingiu-o com uma violência tal, que nem os anos lhe apaziguaram a alma, atormentando-o, perseguindo-o como um espectro, espreitando periodicamente através do seu ombro, cujo peso da dor o obrigou a ceder.

Essa alma morreu, perdeu-se nas vontades, apagou-se. É agora um farrapo feito em retalhos, um fantasma de si mesmo …

Terá essa alma salvação? 
Poderá esse homem ter a ilusão remota de sentir o amor?
Será capaz de se tornar audaz?
Talvez sim, ou talvez não ...

O destino escreverá essa nova página de vida, que ditará a vida ou a morte dessa pobre alma que ama loucamente!


João Salvador - 08/11/2014 (E.G)

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